Escrito pelo Quiropraxista Pablo Pasqualoti
Recentemente, o Rio Grande do Sul passou por um dos piores momentos da sua recente história. Em maio desse ano, a “grande enchente de 1941” deu lugar para a maior catástrofe climática do estado gaúcho. Com aproximadamente 580.111 pessoas desabrigadas e um total de 2.390.556 afetados diretamente pelas enchentes, vivenciamos algo que apenas em filmes e fábulas seria possível imaginar.
Um cenário de destruição que só foi minimizado devido ao movimento social e comunitário de milhares de pessoas no RS, Brasil e no mundo. Experenciamos momentos de solidariedade jamais vistos, trouxemos à tona o que há de melhor no quesito amor ao próximo. Vale ressaltar que a evolução semântica da palavra “solidariedade” demonstra que não se pode mais tratar dela no singular, o que há são solidariedades, plural que se constrói em um interminável trabalho de progresso e solidariedades sociais. A grande comunidade quiroprática não ficou de fora desse movimento social, pelo contrário, através de ajudas e doações do Brasil todo, conseguimos levar um pouco de acalento para os desabrigados, em forma de roupas, alimentos, produtos de higiene pessoal, brinquedos etc.
Além das doações, tivemos a oportunidade de ajudar diretamente com os recursos mais poderosos que um(a) quiropraxista pode ter, o ajuste e a alegria de fazer o bem (para Tolstói, é a única forma de encontrar a verdadeira felicidade)! Segundo as nossas contagens, foram mais de 1.000 atendimentos realizados nos abrigos durante o mês de maio, tanto para os voluntários que trabalharam incessantemente, quanto para os desabrigados que dormiam onde lhes era possível. As principais queixas encontradas nos abrigos foram: cansaço, dor lombar por carregar doações, dor cervical com cefaleia, dor sacroilíaca por ficar muito tempo em pé, diversas dores musculares e algumas possíveis tendinites dos membros superiores. Utilizamos as técnicas manuais, instrumentos de liberação e em alguns casos, até mesmo bandagem funcional! Também saíamos cansados, física e emocionalmente, mas felizes em poder aliviar as dores das pessoas.
É durante as fases de maior adversidade, que surgem as grandes oportunidades de se fazer o bem a si mesmo e aos outros, aquilo que os antropólogos denominam cooperativismo. Foi o que presenciamos nos abrigos e nas ruas de Porto Alegre e região.
O que vimos é difícil até mesmo de elucidar por meio de palavras, tantas histórias, tantas perdas e sofrimento, tantas dores e ao mesmo tempo alegria e gratidão. O Ajuste Voluntário foi muito bem recebido por todos, trabalhamos incessantemente durante os dias em que nossas agendas estavam fechadas e, mesmo após o retorno gradativo das atividades, mantivemos o projeto, pois entendemos que ainda havia centenas de pessoas para auxiliarmos. Tivemos a oportunidade de atender na rua, na igreja, nas escolas, nos centros comunitários e em diversos outros lugares que serviram de casa para as pessoas afetadas pela enchente. Uma experiência única, que esperamos nunca mais precisar reviver, mas que se por acaso acontecer, estaremos ainda mais preparados para prestar nossa mais singela ajuda.
O verbo transitivo indireto “agradecer” parece o termo mais apropriado para descrever esse momento, tanto para aqueles que receberam o cuidado quiroprático, quanto para nós, profissionais da saúde que pudemos, de alguma forma, impactar positivamente na vida das pessoas com o ajuste e a boa vontade.
O valor da ação do quiropraxista transcende o ajuste, vai além do mero alívio da dor ou do alinhamento da coluna, o nosso verdadeiro poder está na maneira como olhamos, ouvimos e tratamos nossos pacientes e disso, jamais devemos nos esquecer.
Muito obrigado a todos(as) quiropraxistas que de alguma forma contribuíram para melhorar a qualidade de vida das pessoas, essa é e sempre será a nossa missão!